terça-feira, 21 de julho de 2009
Desenvolvimento Escultórico
Tal como a acontece no desenho e na pintura a evolução da expressão da criança e a busca de uma representação bidimensional de objetos tridimensionais, na escultura a criança também passa por várias etapas, que vão se tornando cada vez mais complexas até conquistar uma organização tridimensional. Estas etapas refletem o desenvolvimento cognitivo, sócio-afetivo e perceptivo-motor da criança.
“Poder-se-ia supor que os objetos tridimensionais da natureza são com maior facilidade representados na escultura do que no papel ou na tela, porque o escultor trabalha com volume e por isso não se defronta com o problema de traduzir três dimensões em um meio bidimensional. Realmente, isto é verdade até certo ponto, porque a massa de argila ou um pedaço de pedra apresentam-se ao escultor com três dimensões apenas materialmente. Ele ainda tem que conquistar a concepção de organização tridimensional, etapa por etapa, e seria lícito sustentar que a tarefa de dominar o espaço é mais difícil na escultura do que nas artes pictóricas...”¹
A diferença entre o espaço na escultura e o espaço no desenho ou na pintura é que no primeiro, este é a representação da terceira dimensão real, e no segundo caso da terceira dimensão ilusória.
Assim, o desenvolvimento escultórico pode ser observado de acordo com as seguintes etapas:
I Etapa
A criança faz chapados circulares (bifes) partindo de movimentos simples e ritmados. Ela se satisfaz explorando o material.
Equivale aos primeiros rabiscos no desenho.
II Etapa
Os movimentos da fase anterior vão se tornando mais complexos e a criança começa a representar os objetos por pequenas esferas. Isto não significa a conquista de uma organização tridimensional, a criança inventou esta forma compacta para retratar a totalidade de qualquer objeto. A “esfera primordial” corresponde no grafismo, ao fechamento da forma e ao surgimento do “circulo primordial”. Tal como na escultura, o círculo não implica domínio do espaço bidimensional, mas delimitação de uma região do papel para constituir a primeira representação gráfica.
III Etapa
As esferas começam a ser insuficientes para representar os objetos e a criança transforma-as em hastes, onde só é considerado o comprimento e a direção da forma. A haste é a maneira mais simples de representar uma direção na escultura. No desenho, ela corresponderia à linha reta.
Nesta etapa, há uma busca de diferenciações para as formas, que antes eram um todo indiferenciado. A criança combina as hastes fazendo com elas formas de duas dimensões espaciais só com contorno.
IV Etapa
A terceira dimensão é acrescentada à forma através de uma terceira haste, a qual vai estabelecer mais de um plano. Esta haste representa a profundidade do objeto e, no início, é apenas adicionada à forma plana (vertical e horizontal) já existente, para depois ser incorporada ao objeto.
Num primeiro momento, esta terceira haste forma um ângulo reto com as outras hastes, depois a criança se preocupa em diferenciar a orientação destas dando origem a formas obliquas, curvas e torcidas.
Os comprimentos das hastes, inicialmente, são semelhantes, depois se diferenciam. (similar ao tamanho das figuras no desenho)
V Etapa
Nas etapas anteriores, a dimensão do objeto conservou-se constante enquanto apenas as dimensões espaciais foram modificadas. As dimensões do objeto referem-se à sua própria forma e as dimensões espaciais dizem respeito às relações que a forma do objeto cria no espaço.
Nesta etapa, a criança altera a forma geral do objeto do modo mais simples possível pela introdução de uma diferença: o eixo central se torna mais espesso que as partes.
A criança utiliza hastes e volumes nas suas construções.
VI Etapa
O sujeito não se satisfaz mais com uma representação do objeto só pelas linhas de contorno e passa a utilizar placas (formas bidimensionais) para representar os planos de construção do objeto. Estes planos são adicionados uns aos outros para constituir o objeto.
Ao valer-se de placas para representar os objetos, a criança não leva em conta a profundidade da forma, baseando-se apenas na face anterior e posterior do objeto. Assim, o sujeito descobre o plano e perde a dimensão espacial do objeto, o qual é trabalhado como se fosse uma forma em duas dimensões.
VII Etapa
As placas deixam de ser planas para terem um volume e “a terceira dimensão do objeto torna-se uma parte ativa da concepção visual ao invés de estar apenas fisicamente presente”.² No entanto, cada lado do objeto não se interrelaciona com os demais.
VIII Etapa
O sujeito interessa-se por diferenciar as formas quanto ao tamanho, à proporção, à orientação espacial, etc. Ele varia tanto as dimensões do objeto como as dimensões espaciais. Partindo de formas geométricas simples, através de modificações, a criança chega a formas de extrema complexidade.
A representação não é mais vista em faces estanques, mas sim uma face como continuação da outra em 360 graus e em todas as direções.
Segundo Arnheim:
“Seria um engano afirmar que o volume como um todo contínuo foi conseguido já na conformação da esfera primordial. Ao invés, foi preciso um desenvolvimento gradual da haste unidimensional e a diferenciação etapa por etapa por meio de corpos planos e cúbicos para chegar à rotundidade genuína”.³
Referências Bibliográficas
1. ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual.São Paulo: Pioneira, USP, 1980. p.197.
2. Idem, ibidem, p.200.
3. Idem, ibidem, p.205.
*Resumo elaborado por Analice Pillar a partir do livro “Arte e Percepção visual” de Rudolf Arnheim, para a disciplina de Artes Plásticas do curso Alfabetização em Classes Populares – GEEMPA.
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